terça-feira, 7 de julho de 2009

Criação, criatividade e seres cria(ca)tivos. A criação em cativeiro e os cativeiros dos seres na sua propria criação.

Nas parábolas de Jesus encontramos as mais diferentes figuras.

Há homens bons, homens maus, religiosos, não-religiosos, gente humilde e gente soberba. 

Gente que perdoa, gente que cobra com juros e gente que é perdoada. 

Há pais, há filhos, há irmãos, há família. Enfim, há o mundo todo, eu, você e Ele. Ele sempre!. 

Há também a criação servindo-nos de exemplo, e isso há em abundancia no ensino de Jesus: sementes, solo, árvores e animais que nos dão lições de como a vida é e de como a vida deve ser. 

É nesse sentido que Paulo também nos diz algo valioso: Deus se manifesta pela obra de suas mãos, por meio das coisas criadas. 

Isso ficaria obvio pra nós, como era pra Paulo - que ouvia os gemidos da criação, clamando por ser redimida - se tão somente parássemos um pouco pra contemplar a Deus em tudo o que Ele criou. 

Só que a gente não para! 

Não para pra ver, pra ouvir, pra sentir...

Não vê as aves, não olha as flores, não descansa mais sob a sombra das árvores, e seus frutos, a grande maioria de nós – homens urbanos – só vê mesmo nas gôndolas dos supermercados.Já nem mais os percebemos como frutos, apenas como produtos que a gente consome na correria do dia-a-dia.

Encaixotamos a criação! 

E pior, tendemos a tentar fazer o mesmo com seu Criador, que virou até "capitalista" aos olhos da grande maioria dos cristãos. (?!?!) 

Esse "deus" do capital, ao qual serve-se sem perceber - ou pior, há muitos o servindo de forma deliberada - Jesus jamais chamaria de Pai, alias chamou mesmo por um nome: Mamon. 

O Pai de Jesus é outro! 

O Pai de Jesus não pode ser contido por nada! 

Não se vende e não vende coisa alguma, mas dá a todos em abundancia. Manda a chuva sobre as cabeças de todos os homens: justos e injustos. Faz o sol brilhar pra todos debaixo dele e Dele! 

O Pai de Jesus é criativo e generoso! 

Qual de nossas pinturas contemplaria os muitos matizes de uma floresta, ainda que retratando tal paisagem? 

O que, em toda a nossa arquitetura se compararia a uma simples árvore, que serve de casa à pássaros e muitos outros seres? 

Arvores, montanhas, campinas e ribeiros nunca saem de moda, a criação de Deus não sofre desse surto! Pois o próprio Deus que nela se dá a conhecer é isento de quaisquer modismos, Ele é eterno! 

O Eu-Sou, embora possa dar-se a conhecer num mundo de múltiplas cores e formas e em constante movimento e mutação, Ele mesmo, não muda, não varia...e não surta!

A gente é que surta, o tempo todo! Vivemos correndo atrás do vento ao invés de senti-lo. Corremos, corremos e corremos - inventamos até formas aerodinâmicas pra corrermos ainda mais e inclusive contra o vento. 

E quem o escuta? O vento do Espírito-que-sopra-como-o-vento? Quem se arrisca a planar em suas correntes?  

O homem gosta mesmo é de vidro, de plástico e de aço e tudo o mais que o espelhe - onde a criação é apenas, e quando muito, "paisagismo". Narciso é sua imagem perfeita, e nele esquece-se de tudo o que não seja reflexo do si-mesmo. 

Somos seres pedrados - ou seria melhor dizer de plástico, atualizando a metáfora para os nossos dias? 

Já que nossos ídolos também já não são mais de pedra, nem de bronze ou ouro....Não! Não fazemos mais bezerros, preferimos os cavalinhos, desde que num símbolo, no capô de uma Ferrari.  

E o ouro virou silício, plasma, cristal liquido...

Exagero??? Será?!

Pode ser...mas pare pra pensar: a que você dedica seu tempo e seus mais intensos esforços e desejos? Como usa a maior parte do seu tempo e recursos? 

Até corpos, hoje, viram esculturas de silicone vendidas de muitas maneiras no nosso mercado-global (seja esse mercado real ou virtual).  

Seria eu um hipócrita maluco, falando de ídolos de silício, sentado frente a um computador, escrevendo esse texto - e o que é pior - num blog?! 

Não, não! De jeito nenhum! Longe de mim demonizar qualquer coisa! Coisas não têm tal poder, a não ser que a gente empreste a elas! 

A pergunta que importa fazer não é nova, mas continua sempre pertinente: Quem é que serve a que ou a quem?  

Teria sido aquele tal bezerro de ouro, chamado de ídolo, não fosse ele adorado como a um deus? 

Obviamente que não!

Ora, era apenas uma estátua! Perdia feio, em poder de sedução, pra toda a parafernália atual! Não contava com as "magias" da propaganda e nem dispunha de seu próprio mundo virtual, repleto de fantasias e projeções psíquicas. 

Seu poder atrativo vinha apenas do deserto! Não do deserto físico, nas areias do qual foi talhado, mas do deserto de alma dos homens e mulheres que o adoraram! 

E de almas desertas e sedentas o mundo continua cheio! Frente a tudo o que se vê e ao que foi aqui exposto, dá pra negar?!  

Por favor, pense nisso! 

Jesus nunca teve seu foco nas coisas, e nem fez parábolas sobre elas!




Otto


Perdizes - São Paulo