segunda-feira, 3 de março de 2008

O inverso de mim em mim

O mar da minha miséria separa o santo do pecador
Unidos na mesma figura, vastidão e pequeneza deste mesmo ser.
O cheiro podre da minha mazela humana mistura-se ao Teu suave olor.
É a beleza da Graça que torna inegável minha própria desgraça e a faz perecer
Pra que eu não pereça, contudo, desse mal agudo do meu existir.

Sou um, e sou mais no mesmo instante em que, eu, não sou nada.
Sou imagem distorcida e pálida, figura esquálida d'Aquele que é Vida.
Sou fragmento do Ser em meu ser, sou viajante, e Tu: a estrada.
Tu és a porta de entrada, e fora de Ti não se encontra saída.
Se não vens Tu, comigo, impossível é a minha chegada e inútil a minha partida.

Sou um incessante processo a existir em Teu infinito universo.
Existo em Ti e Tu em mim resplandeces, apesar de meu ser tão opaco.
Habitas em mim, ainda que seja eu Teu inverso.
Adotas-me então e me amas, mesmo quando de mim me escapo.
Mas de ti eu não fujo, não posso e não quero, pois em Ti estou e espero.

Tu és meu descanso, eterno acalanto e meu próprio começo.
E assim, em Ti, é que em fim me encontro e me acabo.
Pois não há fim pra mim, vivo pra sempre, quando em Ti eu faleço.
Ainda que não possa eu levar-Te os desejos a cabo.
Tu me renovas, mesmo quando de Ti eu me esqueço.



Otto

Curitiba - Paraná

Um comentário:

Anônimo disse...

Maninho, louvo a Deus por tua vida, por cada recomeço, pelos excesso de bagagem jogado fora e por cada nova aquisição do teu coração.